quinta-feira, 25 de junho de 2009

O TGV e a pata espanhola

Sobre o tão propalado TGV com ligação de Lisboa a Madrid, surgem-me na memória acontecimentos recentes que comprovam a grande mediocridade dos governantes portugueses dos últimos dois séculos relativamente aos poderes de Castela sobre a Ibéria.

Para quem, como eu, cultiva a memória dos 900 anos do nascimento de Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, em ambiente contraditoriamente republicano, estranha que sejam comemorados no ano que vem os 100 anos da implantação da república em Portugal, precisamente dois anos após o assassinato perpetrado por portugueses, em solo português, de um português, que por acaso, era a figura pública denominada Rei de Portugal.

Entretanto, e porque a memória falha aos nossos ilustres governantes nos acontecimentos fundamentais, há pouco mais de 200 anos (1801) , foram invadidas importantes praças fortes raianas pelas tropas de suas Majestades Católicas de Espanha, nomeadamente, Juromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo Maior e Ouguela, e por fim mas não menos importante Olivença, sendo esta última parte integrante do território português em Espanha...

Mais atrás no tempo, recordarei a única época historica em que Lisboa e Madrid se juntaram estratégicamente, para que de uma forma bastante subtil, Lisboa desaparecesse e Madrid dominasse toda a Ibéria.

Este facto histórico aconteceu durante 60 anos, de 1580 a 1640 e marcou muito pesadamente a estratégia de um país como Portugal que tinha consolidado um Império sui generis, pioneiro, global e multicultural.

A primeira machadada provocada nessa época pelos Filipes de Espanha foi a destruição, propositada, da Maior Armada do Mundo, a Portuguesa, contra os nossos aliados Ingleses.

Com esta perda, foram subtraidos aos portugueses, os principais canais comerciais marítimos do Atlântico e do Índico, dando lugar aos novos predadores da Inglaterra, França e Holanda na conquista das "Índias".

Voltando à polémica do TGV, na sua ligação Lisboa-Madrid.
Todos sabemos por experiência que a ligação de Portugal à Europa por via terrestre é tradicionalmente feita há seculos, pelo Norte peninsular. Não porque é tradição, mas porque é mais perto.
A ligação de qualquer ponto da peninsula ibérica a Madrid é puramente artificial e muito recente.
Se analisarmos a história recente da evolução da linha férrea em Espanha, Madrid surge isolada das cidades do litoral ibérico, como Barcelona, Bilbau ou Vigo.

As próprias linhas rodoviárias modernas de ligação da Galiza ao centro de Espanha, foram efectuadas apenas nos anos 90 do século XX. O mesmo acontecendo com o País Basco e Navarra.

Isto só prova que não existe de forma natural, necessidade de ligar Lisboa a Madrid por TGV. Porque os principais fluxos comerciais e populacionais da Ibéria não passam por aí.

Se o nosso rumo é a Europa, sugiro que peguem no mapa e marquem:
1ª alternativa - Lisboa-Porto-Vigo-Burgos-San Sebastian(Donostia)-França.
2ª alternativa - Lisboa-Aveiro-Salamanca-Burgos-San Sebastian(Donostia)-França.
3ª alternativa - Lisboa-Badajoz (ou Cáceres)-Madrid-... para onde...? Para quê?...

A 1ª alternativa pressupõe uma utilização bastante lucrativa da Linha do Norte e "abastece" a maior fronteira da peninsula ibérica em pessoas, veiculos e mercadorias (Valença do Minho).

A 2ª alternativa serviria o maior corredor rodoviário de mercadorias da península ibérica e com rumo à Europa.

A 3ª alternativa serviria apenas e só Madrid, para se ir aos saldos e comer tapas na "Castelhana", e dessa forma eliminar gradualmente qualquer estratégia de médio/longo prazo para Lisboa e para o futuro de Portugal como nação independente.

Haja razão e juizo

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