quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O culto da Árvore e a 1.ª República


Sem pretensões de ser comentarista de serviço, gostaria de lembrar aos portugueses em geral, e aos florestais em particular, que a memória do passado deve ser preservada, relida e reutilizada no sentido de que os erros do passado não se repitam e que as virtudes passadas se repliquem.

A comemoração dos 100 anos de República, quer de certa maneira, concentrar todas as virtudes republicanas num período curto de 10-15 anos (1ª República), onde a consolidação (ou negação) de práticas florestais ancestrais se deve exclusivamente ao espírito laico e republicano. O passado histórico de cariz fortemente régio e/ou religioso é completamente banido do ideário republicano.

Reconheço algumas acções meritórias neste período republicano, como sejam as arborizações dos sistemas dunares frágeis, pântanos, zonas desertificadas etc.

Não reconheço mérito nenhum à crescente e galopante estatização da floresta, à excessiva centralização e peso dos serviços florestais estatais, à visão completamente distorcida a partir de Lisboa das diversidades geográficas, locais e sociais de Portugal, ao apagão histórico e sistemático do passado.

Não reconheço mérito nenhum à introdução de espécies exóticas de crescimento rápido que se tornaram claramente invasoras e distorceram completamente o tecido florestal existente e autóctone.

A lei das sesmarias é menosprezada; o contributo das ordens religiosas na estratégia de florestação e agricultura do interior do país ficou completamente/convenientemente esquecido dos portugueses;

A nova ordem republicana apenas ratificou o desmantelamento da velha ordem que o liberalismo do século XIX liquidou. Com a liquidação da velha ordem, o Estado esse, começou a engordar a partir de 1834, tirando ao sector privado e/ou religioso o protagonismo florestal que sempre teve, de uma forma sustentável, duradoura e local.

Foi a partir dessa data e não com a República, que o Monstro-Estado-Florestal começou a dar os primeiros sinais de insustentabilidade, descontinuidade e centralidadade.

Foi a partir dessa data que o Erário Público ficou refém do crescente despesismo do Monstro Estatal Florestal.

Nestes 100 anos de república são omitidos praticamente 40 anos de ditadura da 2ª república, que de republicana tinha muito pouco, mas foi fruto da irresponsabilidade e mediocridade da 1ª. Mesmo assim e tirando algumas derivas de autoritarismo cego e monosespecífico na floresta, existiu neste período alguma estabilização e organização do sector florestal, até mesmo poupanças em termos orçamentais do erário público.

Assim, se juntarmos a ineficácia, ineficiência e a instabilidade do Sector Florestal Estatal da 3ª república pós 25 de Abril de 1974, poderemos concluir que nestes 100 anos, com ou sem República, com ou sem Ditadura, com ou sem Estado, com ou sem subsídios, a Floresta Portuguesa continua na mesma. E porquê? Porque a floresta em estado selvagem é independente do homem. O verdadeiro problema é que o homem não é independente da floresta.

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